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Escopo teórico e metodológico

          A proposta desta 11ª edição do Workshop Empresa, Empresários e Sociedade mantém a base de sustentação teórica que marca a trajetória do evento, destacando-se a contribuição de diferentes abordagens sociológicas acerca dos fenômenos econômicos, fundadas na ideia de que a ação economicamente orientada e as instituições econômicas expressam complexas combinações entre o cálculo racional e estratégico, no nível do agente individual, e os valores e normas, de natureza histórica e sociocultural, que orientam a conduta dos agentes econômicos. Nos estudos a serem apresentados e debatidos no evento, busca-se articular contribuições de diversas especialidades das ciências sociais, destacando-se a sociologia e a antropologia econômicas, a sociologia da empresa, a sociologia das organizações, a sociologia e a economia dos mercados, a sociologia das finanças, os estudos sociais da ciência tecnologia e inovação, a sociologia do desenvolvimento e a análise de políticas econômicas, de desenvolvimento e inovação.

Sem deixar de revisitar as perspectivas sociológicas mais clássicas de análise e interpretação social dos fenômenos econômicos, como as concebidas por Marx, Durkheim, Weber, Sombart, Veblen, Simmel, Mauss, Pareto, Schumpeter, Parsons e Polanyi, há sempre a necessidade de conhecer novos flancos de investigação, com o intuito de abrir novas perspectivas para o conhecimento da realidade socioeconômica atual, desde a aplicação da perspectiva sociológica sobre os fenômenos econômicos (Smelser & Swedberg, 2005). Não por acaso, a sociologia econômica e a da empresa e a antropologia econômica têm sido desde meados dos anos 1980 alguns dos campos mais vibrantes da análise social.

          O debate internacional e nacional das áreas de estudos que contemplam o escopo do 11º WEES tem explorado novos temas e problemas emergentes (como são os casos da formação dos mercados, da expansão das cadeias globais e da estruturação das redes de inovação), que subsidiam a constituição de novas abordagens que apontam para uma frutífera agenda de pesquisa sobre a vida econômica nas sociedades contemporâneas, avançando amplamente sobre a questão de embeddedness, concebida por Mark Granovetter (1985). As interligações entre a realidade social, política e econômica tomadas desde a conjuntura e o contexto empírico brasileiro, tendem a contribuir amplamente com os avanços analíticos nestes campos de estudo, que vão desde a delimitação de objetos de pesquisa originais e singulares, adentrando a formulação de novos arcabouços teórico-conceituais e chegando até proposições e abordagens metodológicas inovadoras.

       Identificar e analisar os condicionantes socioculturais e politico-institucionais implicados na formação, estabilização e transformação dos mercados têm sido características importantes dos esforços analíticos dedicados à interpretação e à compreensão dos fenômenos que circunscrevem a realidade sociocultural capitalista. O clássico tema do livre mercado e da racionalidade econômica, propagado pela ortodoxia de algumas escolas econômicas, vem sendo gradualmente superado por perspectivas interpretativas originais, que se ocupam da análise do comportamento dos agentes econômicos e do condicionamento desses às estruturas políticas e culturais. Estudos recentes têm avançado cada vez mais em análises que destacam que os agentes econômicos se movem a partir da sua imersão em relações sociais diversas, podendo agir orientados com base em uma gama muito diversificada e heterogênea de mapas cognitivos, capital social, interesses, redes de relações e oportunidades conjunturais.

          No sentido de integrar abordagens em nível micro e macrosociológico dos fundamentos socioculturais do campo econômico, têm se destacado novidades teóricas em muitos trabalhos da área, tais como: a teoria dos campos e da habilidade social (Fligstein, 2009); os dispositivos de cálculo nos mercados performáticos (Callon, 2010), a geografia socioeconômica (Trigilia, 2012; Ramella, 2015); a economia das convenções (Thévenot, 2015), além da análise da morfologia de redes sociais (Uzzi & Spiro, 2005), o culturalismo econômico (Zelizer, 2007) e o neoinstitucionalismo organizacional (Powell & Smith, 2008), podendo ser destacadas ainda perspectivas mais alternativas, como a da economia social (Boltanski & Chiapello, 1999).

          Em termos da construção de objetos de estudo, cada vez mais estão presentes temas como o das cadeias globais de produção e suas relações com as localidades; os limites e possibilidades de crescimento econômico das economias emergentes e a forma de integração dessas ao sistema global; a diversidade de trajetórias entre empresas, territórios e países no processo de inserção em cadeias de valor; internacionalização, integração e abertura ao sistema internacional; inovação como condição para superar um padrão produtivo baseado na exportação de commodities; responsabilidade social das empresas, questão ambiental e sustentabilidade; nova economia informacional e indústria criativa; empreendedorismo em diversas facetas, comportamental, institucional e tecnológico; agroecologia, cooperativismo e economia social e solidária; inserção de empresas em redes de colaboração global e local e em sistemas territoriais; implicações sociais do conhecimento científico e do desenvolvimento tecnológica na agência empresarial e no processo de construção social da inovação econômica; formas de consumo, práticas e relações em torno do dinheiro, crédito, dívida e trabalho.

          Como se vê, trata-se de um campo de estudos muito rico e frutífero, internacionalmente consolidado nas ciências sociais, mas que continua se movendo rapidamente, em termos teóricos, conceituais, empíricos e metodológicos. Justifica-se, portanto, em termos acadêmicos, a importância da proposta deste décimo primeiro encontro, que marca 20 anos no Brasil de pesquisas sobre as temáticas relacionadas, esperando-se não apenas alcançar maior consolidação à Rede, mas ampliar ainda mais a contribuição da produção científica brasileira nesta área, incentivando também jovens pesquisadores – em formação em diversos programas de iniciação científica e de pós-graduação – a contribuir para o entendimento das transformações socioeconômicas no mundo e, sobretudo, no país. Destaca-se finalmente que a própria trajetória dessa rede de pesquisadores caminhou paralelamente a trajetória da construção do modelo de desenvolvimento social e de crescimento econômico do país bem como da sua aparente desestabilização, na conjuntura recente. Ademais, acredita-se que a especificidade do evento promova igualmente a diversificação metodológica e o escopo temático das ciências sociais no Brasil, estabelecendo inclusive importante diálogo interdisciplinar com outras áreas do conhecimento, que se interessam pelas questões que relacionam a economia, os agentes econômicos, a política e a sociedade.

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